sábado, 2 de abril de 2011

Este blog mudou de endereço

 http://dezminutosdesolidao.wordpress.com/.


terça-feira, 22 de março de 2011

"Computadores fazem Arte, Artistas fazem Dinheiro"

     Chico Science cantava lá pelos idos de 94, uma frase que materializa uma grande parte do produto da indústria musical: “computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. Science se referia à tendência mercadológica de pôr a renda na frente da produção artística, o que não é difícil de observar no mainstream.  Observando os novos caminhos que o MinC vem seguindo, esta frase surgiu de imediato em minha cabeça. De que Cultura se refere o Ministério? Da Cultura de Mercado?

     Retirar a licença Creative Commons do site do Ministério da Cultura significa uma ruptura no processo de viabilização do conhecimento livre que vinha se estendendo nos últimos anos. Não é apenas uma troca de licenças, é certamente uma mudança de postura. Uma renúncia ao apoio da cultura digital coloca o novo MinC em qual direção?

     Ora, se o Ministério da Cultura é a favor da democratização da cultura, deveria se posicionar para que as produções culturais e informações sobre a cultura estivessem disponíveis a todos. Isso significa a retirada e não a imposição de barreiras. Se algo é de domínio público, a difusão deve acontecer. E, como um órgão público – que deve(ria) ser para o público –, o MinC deveria viabilizar essa difusão, para que se possa alcançar um maior número de pessoas. Porém, a nova licença apresenta um MinC complicador da difusão, já que “permite a reprodução desde que creditado”, mas não se refere à publicação. Licença, no mínimo, confusa.

       Afastando-se da difusão da Cultura Digital, o novo MinC se aproxima de quem? Da velha máquina do Copyright e da “lógica” do ECAD ou de uma nova alternativa para democratizar a cultura? Se há essa nova alternativa, ela não foi mostrada até o momento. O Copyright não tem mais espaço no mundo do conhecimento livre, já que ao invés de beneficiar o autor, alimenta a velha lógica do mercado. A ministra Ana de Hollanda já anunciou ser contrária a "mudanças radicais" numa possível reforma da Lei de Direitos Autorais. Lei essa, demasiado restritiva, que precisa de uma reformulação em verdade.

       Os rumos que o MinC vem seguindo engendram um retrocesso e um distanciamento da democratização, da difusão do conhecimento livre. Infelizmente, é isso que se vê nos últimos tempos. 

    “Computadores fazem arte, artistas fazem dinheiro”. É lamentável que essa frase ainda continue atual.




sexta-feira, 18 de março de 2011

Bem vindo, Obama! #ObamaOutofBrazil


      

    Mais que uma visita de um presidente. A visita do primeiro presidente negro dos Estados Unidos a terras brasileiras no governo da primeira mulher presidente do país. O Brasil, claro, receberá com muito gosto – algo maior que um simples apreço – esse visitante ilustríssimo. O alarde, então é justificável: a figura carismática – que substitui a imagem negativa do Bush –, vem trazer seus bons intentos aos países latino-americanos. Estreitamento de amizades... Ah, claro!
      
     Simbolismos. Deve ser isso. Melhor, faces. Duas faces: uma para mostrar e outra para esconder. Esconder os interesses, mostrar o que é interessante para o público para “legitimar” comprometimentos. O que Obama traz? Novas oportunidades econômicas. Leia-se: Interesse em exportações e no Pré-Sal. Epa, o que os Estados Unidos têm a ver com o Pré-Sal? Não me pergunte. Hillary Clinton pôs isso em outras palavras: “Obama vai anunciar no Brasil novas oportunidades econômicas e novos caminhos para trabalharmos juntos em energia, inovação e educação”. Para quem isso trará benefícios? Por certo, não ao povo brasileiro. Energia, Inovação e Educação... A situação já não é das melhores, imagine se...

     A outra face, para mostrar o que é interessante, é o que vemos na TV. É o que constrói e se propõe legitimar a figura de Obama como ícone. Sob esta ótica, ele não é um político, é uma celebridade. Todos querem falar, mandar mensagens, fotografar, ver discurso... Afinal, é o presidente dos States! Googleando, não é difícil se deparar com um anúncio publicitário: Dê Boas Vindas ao Presidente Online e Faça Parte Dessa Visita Histórica”*. Vocês não acham que já tem gente demais se preocupando com o que ele vai comer ou deixar de comer?!

     Um ponto que merece ser ressaltado, que não é particular a essa visita, que ocorre todas as vezes que alguém “importante” pisa em solo brasileiro: A gigantesca mobilização. O país se transforma nesses eventos. Nesse intervalo, teremos Forças Armadas, um grande contingente policial, limpeza urbana, vias isoladas para o livre trânsito. Tudo para o Obama, claro. É inimaginável que isso ocorra em tempos cotidianos. Quando tudo acabar e ele voltar para casa, tudo volta ao normal: insegurança, lixo nas ruas, trânsito caótico. Tudo volta ao normal?

*Após acabar o texto, verifiquei que já havia passado de 10 mil o número de mensagens de boas vindas ao Obama enviadas por brasileiros... Nossa!
*2.  Através do Twitter, fiquei sabendo da repressão aos ativistas que manifestavam contra a vinda do Obama. Liberdade de expressão? Democracia? Onde?!
*3. Tem uma galera dando as felicitações pela visita, é só procurar a hashtag #ObamaOutofBrazil no twitter...
*4. Tudo perfeitinho na capital do país enquanto o Obama estiver por lá. Mas na realidade... Não há Simples Solução para o Caos (Inferno de Dandi).

domingo, 13 de março de 2011

Cisne Negro, um abismo da perfeição?


      Debruçar-se sobre si. Talvez essa seja a máxima que exigiria alguma obra que se propusesse sustentar em terreno wagneriano. A grandiosidade, o peso trágico-dramático, a insistência na perfeição. Um filme que almejasse tocar a obra de Wagner, por certo teria que possuir esses elementos para “debruçar-se sobre si mesmo”. Mas não é de Wagner que Cisne Negro se alimenta, é de Tchaikovsky. E Tchaikovsky, com seu Lago dos Cisnes, não traz – apesar da carga dramática – o peso operesco do drama. Em vez disso, exala leveza. Uma leveza que guia o movimento, uma beleza que dança ela mesma. E o que Cisne Negro parece fazer não é dançar levemente através da tela, é debruçar-se sobre si.

    Cisne Negro é todo Nina Sayers. A personagem não está no filme, ela é o filme. Se Nina insiste em cair no abismo da perfeição, Cisne Negro se obstina a segui-la. Nada acontece fora dela, e tudo acontece dentro dela. Somos levados a observar através de um só olhar: o de Nina. Mas o problema não é a unilateralidade do olhar, é o próprio olhar. Por vezes rápido demais, cortado antes de alguma reação. Embora as imagens busquem o efeito, não há talvez tempo ou espaço suficientes para que elas consigam expressar. Claro que há sequências muito boas, mas no geral, falta um olhar mais demorado – não em relação ao tempo, mas à profundidade. Quando não isso, a repetição: uma outra imagem para dizer o que já foi dito. Esse personagem claustrofóbico quer efeito, cada ação exige desesperadamente dele mesmo. O sofrimento delineia sua trajetória de afirmação, transformação e reafirmação. Ao invés de tentar atenuar, Nina entrega-se ao sofrimento, e Cisne Negro entrega-se a Nina. E é essa entrega que dá forma aos melhores momentos da película.


    Não há possibilidade de saída: os dois, filme e personagem, estão presos à estática como Nina está presa a si mesma, ou como o filme está preso a Nina. Quase não há movimento na narrativa, a personagem parece andar em linha reta em grande parte dos momentos. Se Aronofsky foi hábil em construir o drama psicológico da personagem e dar à ela poder sobre suas realidades e ilusões (sobre toda a película, na verdade), pecou ao torná-la estática, sem o brilho do movimento. Muito embora as idas e vindas psicológicas sugiram sair do lugar, não o fazem. E Cisne Negro transcorre assim: fechado, sufocado no mundo de Nina. 


    Se fosse uma obra de Wagner que fosse ser (re)interpretada, a busca pela perfeição não seria um problema. Se o fosse, eu não faria objeções nesse ponto. Mas não, aqui se trata de Tchaikovsky. E neste, olhar para si não é o segredo. O que é necessário é olhar além: a beleza não está em visões fechadas e sim na amplitude de olhares. É algo que necessita de movimento, intuição.  

    A perfeição é um instrumento de alienação. É criar uma ilusão que distancia o sujeito do objeto, o sujeito do próprio sujeito. É o nunca chegar, é o nunca ser. Porque insistir na perfeição?



quarta-feira, 9 de março de 2011

Carnaval ou "qualquer coisa aí"



   Não consigo entender esse tal de Carnaval. Não que tenha de ser entendível de todo, é que bem que poderia ser mais claro, funcionar menos como pretextos. A festa que transforma as cidades em turbilhões de alegria é a mesma que distribui o divertimento forçado, forjado, de qualquer jeito.

  "Pular o Carnaval" deve ser um mecanismo automático. Pretende-se dançar com música, mas os níveis sonoros muito extrapolam os limites e então, é só barulho mesmo. E isso talvez não importe. Não parece importar também a qualidade do que se consome. Sim, porque, pelo menos nos grandes centros carnavalescos, o que ocorre é consumo e não apreciação.

   Se de um lado, é suficientemente plural a ponto de reunir várias manifestações artísticas, doutro, é capaz de desconstruir essas mesmas manifestações, tornando as tudo, menos artísticas. Bastante se tem para mostrar, mas pouco o que expressar. Tomarei como exemplo o Carnaval das Escolas de Samba. Os sambas-enredo, que deveriam ser a chave-mestra do desfile, são muito mais “enredo” do que samba. O lirismo e a cadência do querido samba parecem se perder na grandiosa avenida. Tudo é demasiado grande, e o samba parece ser apenas um elemento da performance. É desse modo que vejo os desfiles atualmente: como aparelhos performáticos. Fico pensando no que estaria em primeiro plano, e tenho a péssima impressão de não sentir que é o samba. Não seriam Escolas de Samba?

  Nesses quatro dias, a alegria teve de se fazer crível de qualquer forma. Festa confusa essa.

Entre Bonecas de Porcelana e Bonecas de Plástico...


  

  Rosto angelical, pele clara, róseas maçãs faciais, cabelos delicados, vestidos belíssimos. Bonecas de porcelana são perfeitas. Delicadas, intocáveis, sem defeito algum. Existiam em larga escala há algum tempo atrás, quando os títulos de nobreza davam mais poder e prestígio. Eram damas elegantes, princesas comportadas. Alguns exemplares ainda podem ser encontrados, principalmente em filmes da Disney.

  Mas essas bonecas quebram com facilidade, dão muito trabalho. O mercado mudou e agora o negócio é outro: bonecas de plástico. Elas não quebram, são facilmente desmontáveis e possuem um vasto estoque de peças de reposição. Sempre seguem as tendências. Nada é bastante, tudo é ultrapassado. Já não é mais preciso espartilho. Agora, lipoaspirações: corpos obrigatoriamente magros! Todas perfeitamente perfeitas, iguais, como se fossem sintetizadas de uma só vez, numa só linha de produção.

  E as que não são de porcelana nem de plástico? E as que não quebram nem desmontam? Ah... Essas são de sangue, carne e ossos... Imperfeitas mesmo, mas de verdade.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Glória Feita de Sangue


Glória Feita de Sangue, um dos primeiros trabalhos do Kubrick, apesar de não carregar o peso dramático de produções de outras guerras, consegue tocar em pontos importantíssimos para uma narrativa embasada em um conflito dessa natureza. Não atinge o espectador pelo sensacionalismo – embora possua momentos bastante sensíveis –, mas por expressar que uma guerra não é uma guerra.

Uma guerra não é uma guerra? Não, uma guerra não é uma guerra. Aquela imagem que se tem na cabeça desde a infância, de que numa guerra luta-se para combater o adversário, não é integralmente verdadeira. É nesse ponto em particular que o filme mostra a imensidão de sua tangência. Aqui, não se mostra o adversário. Todos os problemas se desenrolam dentro do próprio exército francês. É ilusório pensar que numa guerra, todos se juntarão para vencer o inimigo. Uma guerra não é uma guerra, é um jogo de interesses.

E esse jogo de interesses é mostrado de forma primorosa no filme. Quanto vale a reputação de um batalhão? Quanto vale a vida de um ser humano? Quem é glorificado nos bons sucessos? Quem paga pelos fracassos? Certamente, as respostas para essas perguntas não se tocam. Na película, três soldados “pagam” por uma missão (praticamente suicida) fracassada. A escolha aleatória dos soldados punidos me parece que não ter sentido aleatório. Apresentando deste modo, o realizador traça os objetivos reais da punição: ter quem punir. Alguém tem que ser “responsabilizado”, então que sejam os mais fracos. Simples assim.

O que traz beleza ímpar à produção é provavelmente o enfoque dado aos sentimentos humanos. Se de um lado a frieza é inevitável, do outro o sentir o é. O desespero, a raiva, a angústia tomam conta dos corações sensibilizados pelas injustiças. As cenas que precedem a execução dos condenados são no mínimo desconcertantes. Difícil não ser atingido pelas reações dos personagens diante das mortes anunciadas. No desfecho, a lembrança de humanidade nos soldados é resgatada de uma maneira belíssima: através da música. Só uma expressão carregada de sentimentos, como a música, é que nos faz lembrar, de tempos de tempos, que, sobretudo somos seres humanos.

Os caminhos da glória não são construídos pelos glorificados. A glória é feita de sangue. De sangue dos outros.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...