domingo, 20 de fevereiro de 2011

The King of Limbs: Hermético, demasiado hermético


O barulho de um lançamento do Radiohead é inevitável. Os álbuns que sucederam o Ok Computer tenderam a ser recebidos com muito alarde. O que esperar do sucessor do In Rainbows então?
Escrever algo sobre o Radiohead é um caso complicado. Uma banda superestimada. Ótima banda, ótimos músicos. Apenas. Atribuir a eles pioneirismos relevantes ou a responsabilidade de uma “revolução musical” é exagero. O Ok Computer é um disco maravilhoso, mas não divide o tempo em antes e depois do álbum. O Kid A não é a obra-prima do milênio. O Amnesiac se assemelha a uma compilação de B-sides. O Hail to the Thief não é o retorno majestoso às guitarras. O In Rainbows é bom, mas grande parte do alarde engendrado por ele é proveniente da jogada de mestre de sua distribuição. Boas produções, com vários momentos bons e uns poucos ruins.
The King of Limbs vem pra romper com quase quatro anos de jejum de um álbum de inéditas. Chega devagar, carregado por minimalismos, marcado majoritariamente pelo eletrônico e pontuado por texturas peculiares. Depois, a melodia aparece e traz os melhores momentos do álbum. Pena que quando a simplicidade consegue o que o experimentalismo não conseguiu fazer, o álbum já está quase no fim.
O experimentalismo é uma faca de dois gumes. A linha que separa a “liberdade criativa experimental” do “experimentalismo pelo experimentalismo” é bastante frágil. Fugir do usual não é problema. O problema é quando essa fuga deixa a essência fugir. Apresentando dessa forma, parece que é algo particular do experimentalismo. Não é. É algo que toca uma vastidão de temas. Muitas vezes o que parece essencialmente normal, sem espaços vazios, deixa escapar a essência. Minhas insatisfações com o álbum rumam para este ponto: a ausência de essência melódica em grande parte de sua extensão.
É puramente uma questão de gosto pessoal o fato de o álbum me parecer estranho aos ouvidos. E isso não é por falta de experiência auditiva, é que não consigo me aproximar da peças musicais que apresentam essa orientação. A absorção é estranha. Talvez a explicação para esse distanciamento seja meu primor pela melodia. Embora aprecie com certa intensidade a utilização de texturas – largamente utilizadas no álbum –, não as desligo de outros aspectos. Textura por textura somente não funciona. Para mim, experimentalismo por experimentalismo também não. The King of Limbs não é experimental injustificadamente, mas em vários momentos deixa faltar essência melódica.
Faixa-a-faixa:
Bloom
Claustrofobia. Minimalismo em todos os canais, uma confusão sonora pontuada pela voz do Thom Yorke, muitos sintetizadores, uma linha percussiva repetitiva... Claustrofobia é a sensação.
Morning Mr Magpie
Estática, apesar dos movimentos.
Little By Little
Interessante. Ótima harmonia instrumental. Mas ainda me parece estranha os ouvidos.
Feral
Confusa. Base eletrônica e muitos ruídos.
Lotus Flower
A quase-balada do álbum.
Codex
Quando o piano introduziu a minha primeira audição, pensei que seria algo parecido com Videotape. Mas não. Surpreendi-me positivamente. É nesse ponto do álbum onde se recupera a essência melódica que traz o brilho para o álbum. É na simplicidade que Codex vence o ouvinte.
Give Up The Ghost
A anterior já teria feito valer o álbum. Mas a coisa ficou melhor. Give Up The Ghost nos presenteia com sua singela beleza. Transcorre naturalmente, a repetição não é problema.
Separator
A faixa que chega para encerrar esse curto álbum é até simpática, mas falta alguma coisa... Final inconcluso.

Só o tempo dirá se essa descontinuidade melódica enriquecerá ou desfigurará os detalhes sonoros. No fim, de nada valem “produções geniais” que não conseguem comunicar. Esse é o problema da tendência contemporânea de robotizar a música: falta de essência, incomunicabilidade. Seria esse o caso do Radiohead? Para álbuns desse tipo, um tempo de maturação auditiva é necessário.
The King of Limbs: Hermético, demasiado hermético. Aqui, o hermetismo não é por falta de compreensão, é por falta de absorção. Ou para alguns – e nesse ponto me incluo? – por falta do que compreender.

4 Comentários:

Andrew Rosário disse...

Excelente resenha, penso como você também.

Jéssica Evelyn disse...

Andrew, obrigada por comentar!

Anônimo disse...

Tive as mesmas sensações. Muito experimentalismo, muita robotização, muito sintetizadores, daí fica parecendo sempre mais do mesmo. Mas a voz de Yorke sempre quebra essa minha linha de argumentação dura. Não é um albúm superior ao In Rainbows, por exemplo, mas mesmo assim um bom albúm.

Abraços ;)

Jéssica Evelyn disse...

Oi, Danilo!

Por mais que eu diga que não, por mais que o Radiohead me cause estranhamento, em algum momento o som dos ingleses me captura. Assim como ocorre contigo, o Thom Yorke ainda consegue me vencer.

Abraços!

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