quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dez Minutos Mais Velho


  
  O que é o tempo? Essa indagação carrega outra. Como poderíamos precisar a definição de tempo sem nos perguntar como o vemos? O conceito de tempo esbarra na nossa significação do mesmo. Se não esbarrar, o conceito possivelmente é raso, impessoal.

  Dez Minutos mais Velho (Ten Minutes Older), projeto concebido por Nicolas McClintock, é uma película que reúne vários curtas de diversos diretores, onde cada um apresenta suas impressões sobre o tempo. Melhor dizendo, suas visões sobre o tempo. Quinze diretores participam, sendo sete no primeiro (The Trumpet) e oito no segundo (The Cello).

  Apesar de estarem ligados por um mesmo tema, os curtas exploram várias direções. Embora apresentem apenas dez minutos de duração, permitem ao espectador um olhar mais demorado. No geral, são belas produções que conseguem traçar distintos caminhos sobre um mesmo tema. Cada um tem suas particularidades, as fotografias são bem diferentes umas das outras, o enfoque não é o mesmo, as construções são bastante diferenciadas. Isso é muito interessante. A cada dez minutos, uma nova descoberta para o espectador.

  Segundo Gabriel García Marquez, um conto ou anda ou desanda. Penso que isso acontece com os curtas. Ou andam ou desandam. Nos longas, como o tempo é maior, uma desviada de atenção pode não comprometer. Mas se o curta destoa em algum momento, é bem provável que ele desande. Observei isso – tenho que ressaltar que é uma opinião pessoal – em um curta em especial. “Vers Nancy”, de Claire Denis, desanda não porque a proposta seja ruim ou que não tenha momentos bons (o final é interessantíssimo). Desanda porque se apresenta demasiado enfadonho e acaba cansando o espectador. Dez minutos parecem demorar muito mais. Outra façanha do tempo: ele parece não se importar muito com a nossa contagem.

  Com exceção do citado acima, os outros se mostraram muito bons, pelo menos sob minha ótica. Menções honrosas para Lifeline (Victor Erice), Ten Thousand Years Older (Werner Herzog) e 100 Flowers Hidden Deep (Chen Kaige) no The Trumpet e Histoire d'eaux (Bernardo Bertolucci), The Enlightenment (Volker Schlöndorff) e Dans le noir du temps (Jean Luc-Godard) no The Cello. Excelentes, surpreendentes.

  O que é o tempo? Não sei. Embora não tenha a pretensão de obter uma resposta, aprecio refletir sobre ele. E se essa reflexão acompanhar belas produções cinematográficas, fica muito melhor. Dez Minutos mais Velho é uma ótima companhia.

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