sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ensaiando a Felicidade

   Luísa sempre fora uma menina bastante alegre. Ou pelo menos era o que aparentava ser. Sempre lhe disseram que alegria não era felicidade. Ela ouvia que alcançar a felicidade era o objetivo da vida. Não lhe falavam, porém, o que era felicidade, apenas insistiam que ela era necessária. Como grande parte das crianças, cresceu transbordando dúvidas, que só se agravavam com as tentativas de resposta.
   Tivera uma boa infância, bem verdade. As coisas mudaram um pouco com a chegada da adolescência. Até este ponto, nada tão diferente dos outros. Normalmente as coisas começam a complicar na adolescência mesmo. É nessa fase que o mundo começa a desabar. Também é nesse ponto que geralmente se acredita ou desacredita nessa tal de felicidade.
   Melancolia, romantismo, profundidade, visceralidade. Seu espírito inquieto e insatisfeito de outrora tomava forma, ganhava vazão. As dúvidas ainda estavam presentes, mas ganhavam um sabor diferente. Inseguranças, conflitos, enfermidades.
   O fato é que sobreviveu às dores juvenis. Saiu-se bem até, porque apesar dos pesares, via brilho na vida. Vivia. Percalços viriam. Mas ela não dava importância prioritária a eles, porque lutava para que eles não tomassem o lugar dos amores, dos divertimentos, das inquietudes com as injustiças, dos desejos, dos sonhos.
Acho que foi num dia primeiro de Janeiro que ela me contou algo interessante. No dia anterior, havia encontrado uma multidão curiosa. Estava ela a caminhar sem rumo, quando avistou a aglomeração voltada para o mar. Louca para saber o que estava a acontecer, aproximou-se e perguntou a um senhor:
­
 – O que vocês estão fazendo?
– Esperando.
– Por quem?
– Pela Felicidade.
– Conhece?
– Não.
– Quando ela vem?
– Não sei. Ninguém sabe.
– Então porque a espera?
– Porque é necessário! Só serei feliz se estiver com a Felicidade! Esperei minha vida toda por ela... Porque você não espera conosco?
– Não, obrigada. Vou viver mais um pouco... Mas obrigada pelo convite, você é muito gentil! Talvez um dia nos encontremos de novo!
– Tem certeza de que não quer ficar?
– Sim. Vou indo.

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